Pesquisa compara a evolução da Pandemia de Covid-19 em Fortaleza e Manaus
23 de fevereiro de 2021
Na quarta-feira, 17 de fevereiro, pesquisadores do LARIISA apresentaram em uma live detalhes da pesquisa Colapso da Saúde em Manaus: o fardo de não aderir às medidas não farmacológicas de redução da transmissão da Covid-19. O estudo foi compilado em um artigo científico já publicado em pré print no periódico Scielo.
Os palestrantes do encontro virtual mediado pelo pesquisador da Fiocruz, Odorico Monteiro, foram a professora e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), Leonor Pacheco, a pesquisadora da Fiocruz e professora de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ivana Barreto, o professor do Departamento de Informática do Instituto Federal do Ceará (IFCE) Aracati, Valter Costa Filho, o professor do IFCE, Ronaldo Ramos e o cientista chefe da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), José Xavier Neto.
Pacheco citou o estudo nacional realizado pela UnB em parceria com a Fiocruz, “Óbitos hospitalares relacionados à Covid-19 no SUS e a capacidade das regiões de saúde”. Esse trabalho deu origem à pesquisa discutida no encontro, que teve por objetivo comparar o comportamento da Covid-19 em Manaus e Fortaleza, durante o epicentro da pandemia em 2020, analisando medidas governamentais e os níveis de isolamento social.
A construção da linha do tempo dos decretos locais de isolamento social e o desenvolvimento de um algoritmo para calcular o Índice de Permanência Domiciliar (IPD) foram estratégias utilizadas pelos pesquisadores. A base da pesquisa foi o uso de dados colhidos a partir do Google Mobility Report, observando a permanência das pessoas em locais como: domicílio; mercados e farmácias; local de trabalho; trânsito e estações; varejo, lazer e parques.
Quanto maior o índice, maior a permanência residencial e menor a circulação de pessoas em áreas públicas; o que sugere uma redução na probabilidade de exposição de pessoas suscetíveis ao novo coronavírus. “O IPD é, então, a média das diferenças entre a permanência residencial e nos outros locais considerados”, explicou o professor Valter Costa.
A professora Ivana Barreto destacou os seguintes indicadores sociodemográficos e de saúde utilizados para comparar as capitais: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e Produto Interno Bruto (PIB) per capita, população estimada, densidade demográfica urbana e taxa de escolarização de 6 a 14 anos.
Os pesquisadores encontraram que em março de 2020, logo após a publicação dos primeiros decretos, o IPD registrou crescimento considerável em ambas as capitais. No entanto, em Manaus, o índice foi bem menor e se manteve por um período mais curto, passando a apresentar valores negativos a partir de agosto, indicando que a população permanecia mais tempo na rua do que em casa.
Já em Fortaleza, a permanência domiciliar foi bem maior e decaiu lentamente, mesmo após os Decretos de abertura em julho e agosto, permanecendo em valores mais baixos, mas ainda positivos, até o final de novembro de 2020.
“É evidente que o distanciamento social é o método mais eficaz para a diminuição da contaminação, mas a oscilação das medidas de contenção e liberação de contenção nos mostra um efeito de múltiplas ondas. É complexo, por isso precisamos tanto da imunização coletiva”, ressaltou o professor Ronaldo Ramos.
O professor Odorico defendeu que a testagem em massa é relevante também para o monitoramento epidemiológico. “Não podemos usar como único indicador de necessidade de lockdown a lotação nas UTI´s. A testagem é fundamental e nós precisamos ampliar muita essa técnica para o enfrentamento da pandemia”, falou o pesquisador.
Em contrapartida, Xavier Neto declarou que apesar da importância da testagem em massa, a ferramenta de monitoramento epidemiológico mais efetiva é a checagem do aumento ou diminuição de óbitos. “O processo de testagem não abrange uma população fixa para que haja comparações futuras. Com isso, o espaço amostral torna-se mutável a cada fase de testes e invalida o processo de monitoramento”, disse.
O estudo conclui que é necessária a aplicação rigorosa de medidas não farmacológicas. Além da realização de mais testes por habitantes, a testagem em casos suspeitos de Covid-19, a realização de quarentena por pessoas confirmadas ou sob suspeita de Covid-19, o aumento da vigilância genômica do vírus no Brasil e por fim, a imunização em massa da população brasileira.
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