Startups e agenda ABRASCO são temas de curso sobre Saúde Digital
27 de novembro de 2021
Na sexta-feira, 19 de novembro de 2021 ocorreu o segundo dia do curso “Intervenções em Saúde Digital para Promoção da Saúde”, atividade introdutória do 11º Congresso Brasileiro De Epidemiologia, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), o maior evento da área na América Latina. Realizado pelo LARIISA Saúde Digital, o curso reuniu pesquisadores influentes da Saúde Digital e promoveu debates que dialogam com a temática geral do Congresso: “Epidemiologia, democracia & saúde: conhecimentos e ações para a equidade “.
SBIS e a avaliação das Intervenções em Saúde Digital
A diretora de Educação da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), Cláudia Moro, abriu o segundo dia de curso falando sobre os métodos de avaliação utilizados pela SBIS nas Intervenções em Saúde Digital e evidenciou os desafios para implantação desses projetos no Brasil. Sobre os métodos avaliativos, Cláudia destacou os recursos que podem validar ou não uma intervenção. “Nós trabalhamos em cima de um conjunto de avaliação muito voltado para a própria aplicação e não somente como uma intervenção em saúde. O foco da avaliação está na efetividade, na eficácia, na qualidade da informação gerada e no impacto que a aplicação terá”, afirmou a professora que em seguida lembrou da escassez de profissionais brasileiros capacitados na área, “porque apesar da potência da informática em saúde, nós ainda precisamos formar e apoiar muitos profissionais nesse caminho”, concluiu.
Saúde Digital ampliando acesso à Saúde
O gerente médico do Departamento de Telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein e presidente da Saúde Digital Brasil (SDB), Eduardo Cordioli, demonstrou por meio de vários exemplos como as tecnologias de Saúde Digital vêm sendo utilizadas mais frequentemente desde o início da pandemia de covid-19. “Diversos pacientes passaram a ser acompanhados pela Telemedicina, pois muitos ambulatórios ficaram fechados. A Telessaúde proporciona uma democratização do acesso à saúde”, afirma. Cordioli também apontou os prejuízos que a falta de atendimento digital pode ocasionar nos pacientes crônicos. “Não ter uma porta digital aberta para o doente crônico, neste momento, faz com que ele se automedique ou não realize o tratamento”, afirmou Cordioli.
A SDB é uma organização sem fins lucrativos, que surge tendo como principal objetivo garantir a continuidade, mesmo após a pandemia, da assistência à saúde por meio da telemedicina e da telessaúde, em todo território nacional. Além de possibilitar o acesso universal, incrementar o desenvolvimento científico-tecnológico e a inovação na saúde.
O papel das startups em Saúde Digital
A pesquisadora Ivana Barreto, especialista em Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública da Fiocruz Ceará e professora de Medicina da UFC abriu o painel de discussão apresentando o Laboratório de Redes Inteligentes e Integradas em Saúde (LARIISA) e os projetos desenvolvidos pelos pesquisadores do laboratório. “O LARIISA está fortalecendo o ecossistema de inovação, produção e empreendedorismo da Fiocruz e as instituições parceiras. O objetivo do laboratório é fomentar o desenvolvimento de pesquisas e ações de inovação em Saúde ”, explicou a professora Ivana.
A presidente da Associação Brasileira de Startups em Saúde, Ihvi Aidukaitis, participou do painel de discussão definindo o conceito e o funcionamento pleno de uma startup. Ihvi esclareceu que “startup é uma “empresa emergente” que tem como objetivo principal desenvolver ou aprimorar um modelo de negócio, preferencialmente escalável, disruptivo e repetível”. A presidente explicou também a transformação imediata dos modelos de negócios após a chegada da pandemiae como essas empresas tornaram-se intervenções digitais em saúde. “As startups têm trazido, de fato, muita inovação e mais do que isso, elas têm trazido soluções reais para problemas reais”, afirmou Ihvi.
O professor da UFC e cofundador da startup Intmed, Flávio Rubens, contribuiu para a discussão contando a trajetória da sua intervenção digital em saúde. Introduzida no ecossistema há cinco anos, a Intmed faz parte do mercado das healthtechs, as startups que desenvolvem tecnologias para melhorar o sistema de saúde. A Intmed é conhecida por criar projetos de tecnologia customizados, que sanam frequentes necessidades de médicos e gestores. “Os nossos principais objetivos são reduzir custos com exames e medicamentos desnecessários, implementarmos condutas mais seguras para os pacientes e melhorar a gestão dos recursos de hospitais e clínicas parceiras”, disse Flávio.
Além de aplicativos, a Intmed investe em criação de softwares como o MedFlow, um sistema operacional de protocolos médicos e clínicos, que automatiza e padroniza os atendimentos em ambientes hospitalares. “Criamos uma ferramenta que extrai todo esse conhecimento e viabiliza que o profissional passe a ter um guia para fazer o atendimento. Ele atende seguindo um fluxo desenhado juntamente a outros médico”, explicou o também fundador da Intmed, Bosco Ferreira.
O médico infectologista e integrante da Hilab, Bernardo Montesanti, apresentou o case de sucesso de uma startup. Com o objetivo de democratizar cada vez mais o acesso à saúde, em 2017 nasceu o Hilab, um serviço de Testes Laboratoriais Remotos completo. A coleta, domiciliar e agendada por meio de um aplicativo, permite que qualquer pessoa realize um exame de sangue exigindo somente um furo na ponta do dedo. O sangue é colocado em uma máquina portátil de 12 centímetros cúbicos, na qual é inserida uma cápsula com uma fita interna que carrega os reagentes específicos para cada teste. As metodologias utilizadas são a imunocromatografia, a imunofluorescência, a química seca e a colorimetria, as mesmas usadas pelos laboratórios tradicionais. “Em até 30 minutos, o paciente recebe o laudo assinado por profissionais da saúde do laboratório de análises clínicas Hilab, pronto para levar ao médico”, explicou Montesanti.
Agenda ABRASCO para Saúde Digital
Como atividade de encerramento do curso “Intervenções em Saúde Digital para Promoção da Saúde”, promovido pelo LARIISA Saúde Digital, os pesquisadores realizaram uma mesa redonda sobre a construção de uma agenda da ABRASCO para a Saúde Digital à Luz do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação. A discussão foi coordenada pelo diretor-presidente do Instituto de Biologia Molecular do Paraná – Fiocruz, Pedro Barbosa.
A presidente da ABRASCO, Rosana Onocko, destacou a importância do investimento em saúde digital para a reconstrução do país pós-pandemia. “A pandemia vai passar e nós precisaremos estar prontos, com soluções a oferecer para nos reconstruir. A pandemia abriu uma enorme porta para a telemedicina, isso aproximou o povo brasileiro dos sistemas de saúde, então não podemos dar mais nenhum passo para trás. As intervenções digitais só têm a acrescentar ao nosso futuro-presente”, disse Rosana.
O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, apresentou algumas intervenções digitais utilizadas pela Fiocruz no enfrentamento à pandemia. Krieger citou o Conexão Saúde, criado pela Fundação em parceria com o Conselho Comunitário de Manguinhos, Redes da Maré, Dados do Bem, SAS Brasil e União Rio. Trata-se de um modelo de atendimento de saúde integral direcionado aos moradores da Maré e de Manguinhos, duas comunidades cariocas no entorno da Fiocruz, e “inclui desde a orientação e o apoio à população local, até a telemedicina, testagem molecular, rastreamento de contactantes, produção de mapas de risco dentro das comunidades e acompanhamento da efetividade das vacinas anti-Covid-19”, contou Krieger.
O vice-presidente citou também o Observatório Covid-19 e o projeto Rede Genômica, outras duas iniciativas criadas para o combate da pandemia. O Observatório Covid-19 Fiocruz tem como função produzir informações para ação. Seu objetivo geral é o desenvolvimento de análises integradas, tecnologias, propostas e soluções para enfrentamento da pandemia por Covid-19 pelo SUS e pela sociedade brasileira. Sua dinâmica de trabalho envolve a produção de informações, dashboards, análises, desenvolvimento de tecnologias e propostas. Já o Rede Genômica reúne especialistas de todas as unidades da Fundação no Brasil e de institutos parceiros que se uniram com o propósito de gerar dados mais robustos sobre o comportamento do SARS-CoV-2, por meio da decodificação do genoma viral. “Assim, é possível acompanhar as linhagens e mutações genéticas do novo coronavírus e contribuir para um melhor preparo do país no enfrentamento à pandemia em termos de diagnóstico mais precisos e vacinas eficazes”, expôs Krieger.
O pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), Marcelo Fornazin, apresentou o projeto Implicações das Tecnologias Digitais nos Sistemas de Saúde. Marcelo citou o projeto desenvolvido em parceria com o Núcleo de Estudos Prospectivos do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, um websurvey gestado no âmbito da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 e do Saúde Amanhã, que aborda os impactos da inteligência artificial na medicina diagnóstica nas próximas décadas. O principal objetivo do projeto é tratar as questões além da clínica. “Com mais de 1,4 mil especialistas, dois terços dos respondentes apontaram que haverá mudanças radicais até 2030, enquanto 30% acreditam em um prazo mais estendido, mas são pouquíssimos, menos de 2% os que acham improvável que haja grandes mudanças”, explicou Fornazin.
“Assim como o Open Banking e o Open Insurance, o Open Health faz muito sentido para o setor como um todo e principalmente a experiência e a saúde do usuário”, afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde, Luis Kiatake, que participou da mesa redonda falando sobre a introdução do Open Health no ecossistema de saúde do Brasil. O Open Health é um movimento parecido com o Open Banking, porém na área da saúde. Ele pretende unificar os dados dos pacientes e torná-los públicos ou pelo menos, públicos de acesso controlado. Os dados em questão seriam disponibilizados para empresas que transformam pesquisas em intervenções digitais, por exemplo, e, nesse âmbito, os pacientes estão resguardados pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, Lei nº 13.709/2018, que estabelece regras sobre coleta, armazenamento, tratamento e compartilhamento de dados pessoais, impondo mais proteção e penalidades para o não cumprimento.
O pesquisador Odorico Monteiro, especialista em Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública da Fiocruz Ceará e professor de Medicina da UFC, encerrou as apresentações da mesa ressaltando a necessidade de reconhecimento da Saúde Digital e as oportunidades esse campo apresenta para o país. “Quando nós falamos em Saúde Digital, precisamos falar também em inovação. É muito importante pensar na Saúde Digital dialogando com o complexo econômico-industrial da saúde, mas isso ainda não está totalmente dimensionado para o Brasil. A OMS prevê que mais de um bilhão de pessoas seriam beneficiadas com essa área da saúde, então por que não?”, finalizou Odorico.
Por: Liz Siqueira
Assista aos vídeos com a programação do curso deste dia 19 de novembro:
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