O LARIISA Saúde Digital realizou nos dias 18 e 19 de novembro de 2021 o curso “Intervenções em Saúde Digital para a Promoção da Saúde”, que fez parte das atividades que antecedem o 11º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) e considerado o maior evento da área na América Latina. Realizado trianualmente, o Congresso ofertou antes da sua programação oficial cursos que dialogaram com a temática do evento, que nesta edição é “Epidemiologia, democracia & saúde: conhecimentos e ações para a equidade “.

A pesquisadora Ivana Barreto, especialista em Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública da Fiocruz Ceará, professora da Medicina abriu o evento ressaltando a potência da Saúde Digital para a democratização do acesso. “O que nos anima muito no campo da saúde digital é a potência das soluções tecnológicas desenvolvidas. A Organização Mundial da Saúde prevê que essa área pode incluir até um bilhão de pessoas no âmbito da assistência em saúde, basta nós observarmos a estrutura atual do sistema de saúde brasileiro para perceber que é uma ação imprescindível”, falou a professora Ivana.

A mesa de abertura, coordenada pelo pesquisador Especialista em Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública da Fiocruz Ceará e professor da FAMED – UFC, Odorico Monteiro, contou com a presença do pesquisador sênior da Fiocruz Bahia, Manoel Barral. Do pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), Marcelo Fornazin e da médica e representante da presidência da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), Beatriz Leão.

O professor Odorico Monteiro evidenciou os desafios que o tema em questão oferece. “Saúde digital é como você sair do mundo analógico do século XX para o mundo digital com vistas a melhorar a eficiência e eficácia do sistema de saúde e acima de tudo incluir pessoas. Vai muito além da Telemedicina e aplicativos. Esse é o grande desafio na área de Produção, Desenvolvimento e Inovação, trazer academia, estado, startups e transformar dado em informação para construir soluções em saúde e produzir inovações”, afirmou.

O professor Manoel Barral citou a falta de profissionais capacitados e atuantes na Saúde Digital, porque “apesar do investimento feito por algumas instituições, ainda temos um número baixo de qualificação de pessoal e consequentemente na realização de estudos e serviços na área de ciência de dados em saúde”..

O professor Marcelo Fornazin explicou sobre a importância da Agenda 2030 e as contribuições que a Fiocruz tem dado no quesito sustentabilidade. “Nós estamos muito envolvidos nesse projeto, estamos desenvolvendo vários estudos, principalmente na pauta sustentável. Estabelecemos um ambicioso conjunto de objetivos para o desenvolvimento e a Fiocruz tem um papel importantíssimo na decisão da saúde global desde o inicio do seu compromisso com a Agenda 2030, ainda desde a realização do Rio+20”, lembrou Fornazin.

Saúde Pública de Precisão

Ao evidenciar o desenvolvimento de tecnologias que permitem a prática de uma Saúde Pública de Precisão, o professor Manoel Barral destacou as experiências em Saúde Digital pensadas para auxiliar no enfrentamento da pandemia Covid-19. Ele apresentou a iniciativa de teletriagem criada para vigilância do comportamento do vírus e diagnóstico prévio da doença, o Telecoronavirus, uma espécie de chatbot conduzido por estudantes internos de medicina que atende a população de forma gratuita. Apresentou também o VigiVac, utilizado no acompanhamento da efetividade das vacinas anti-Covid-19, analisando os desfechos de infecção, hospitalização; admissão em Unidade de Terapia Intensiva e óbito. Os dois projetos foram desenvolvidos pela Fiocruz Bahia. “Nós tivemos uma cooperação importante por parte do Ministério da Saúde no processo de liberação de dados secundários coletados rotineiramente pelo DATASUS.”, acrescentou  o professor Manoel Barral.

Intervenções em Saúde Digital da OMS

O pesquisador e professor Odorico Monteiro apresentou uma série de intervenções em Saúde Digital desenvolvidas pelo LARIISA Saúde Digital. Dentre elas está o GISSA, um sistema que qualifica e facilita o processo de tomada de decisão. A plataforma atua por meio da coleta de dados que já estão presentes em bases obrigatórias para todos os municípios. Apresentou também o Zelo Saúde do Idoso, uma plataformavoltada à gestão do cuidado em saúde da população idosa, disponível nas intefaces mobile e web.

Já o Covive Social é uma plataforma de colaboração, informação e comunicação entre o serviço social hospitalar e as famílias de pacientes internados, desenvolvida durante o enfrentamento à covid-19. Por fim, ele apresentou o Índice de Permanência Domiciliar (IPD) durante a pandemia. Trata-se de um indicador para acompanhar o isolamento social durante a Covid-19, desenvolvido a partir de dados colhidos do Google Mobility Report. O IPD observa a permanência das pessoas em lugares como: domicílio; mercados e farmácias; local de trabalho; trânsito e estações; varejo, lazer e parques. “Quanto maior o índice, maior a permanência residencial e menor a circulação de pessoas em áreas públicas, o que sugere uma redução na probabilidade de exposição de pessoas suscetíveis ao novo coronavírus”, explicou o pesquisador.

Estratégias Fiocruz para a Agenda 2030

O médico, pesquisador sênior da Fiocruz e integrante da Estratégia Fiocruz para implementação da Agenda 2030, Luiz Augusto Galvão, falou sobre as estratégias sustentáveis utilizadas pela Fiocruz na Agenda 2030. A estratégia incorpora o documento da Organização das Nações Unidas (ONU) ao desenvolvimento estratégico e ao programa de trabalho da Fiocruz a médio e longo prazos.  São objetivos ambiciosos e interconectados que abrangem os principais desafios de desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo.

 Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e prosperidade. “A Agenda 2030 é universal, indivisível, integrada e aspiracional. Integra as dimensões econômicas, sociais e ambientais do planeta e é sintetizada em seu lema central: Ninguém é deixado para tráz, uma ideia-força da equidade para alcance dos princípios diretores voltados para Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias, esses são os cinco Ps”, explicou o professor Luiz Galvão.

Marco Legal da Telemedicina

A deputada federal Adriana Ventura(NOVO-SP) tratou em sua fala sobre a Saúde Digital e o Marco legal da Telemedicina à Luz do Projeto de Lei 1998/2020. O PL defende a regulamentação da Telemedicina no Brasil tendo como base a experiência vivenciada durante a pandemia, a sociedade observou a necessidade de se dar continuidade a esse novo método de atendimento na área da saúde.

Esse projeto dispõe, entre outros pontos, que o Conselho Federal de Medicina poderá regulamentar osprocedimentos mínimos para a prática, bem como que a realização do teleatendimento deverá observar a decisão do paciente, do representante legal e sob responsabilidade profissional do médico, respeitado o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados. O PL encontra-se em análise na Câmara dos Deputados. “Quando a gente fala em Telessaúde, falamos de acesso. O Brasil estava vinte anos atrasado em relação ao que os outros já estão fazendo”, declarou. A congressista disse que “a regulamentação envolve um ecossistema que vai além da área médica, abrangendo também startups e empresas de tecnologia. Diante disso, é visível que adotar políticas tecnológicas e de expansão da internet é tão importante quanto oferecer outros meios de consultas médicas, visto que de nada adianta a variedade na oferta de serviços médicos, se os meios para alcançar são rudimentares e até mesmo inexistentes”, opinou a deputada.

Por: Liz Siqueira

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